Quantas vezes eu prometi me
calar e ao chegar no convescote a tramela se desconectou de mim e assim entre
uma palavra e outra fui soltando o palavrório, reuni a força dos pronomes,
ajuntei um bocado de substantivos com seus referidos adjetivos e me larguei na
conversa que vinha entrecortada de assuntos sobrepostos até que um dia eu
percebi que estava falando para nada, ninguém, sequer para o vento. Decidi me
calar e de agora em diante apenas vou escutar, mesmo que meus ouvidos estejam
um pouco teimosos.
Deste jeito nem as paredes
escutarão a minha voz e quando eu vier da rua, do mar ou de qualquer ambiente
elas não terão o privilégio de me ouvir contar o que aconteceu no tempo que
passei por aí, colhendo dados, travando uma prosa, ensaiando ideias com
qualquer um, desperdiçando meu tempo tendo a certeza que para o meu coração a
rua pode ser dramática, engraçada e emocionante. Agora, com ouvidos sem
serventia por vontade própria virei sempre carregada com a tinta no matiz inspirado
na cor da vida ilustrando a história do dia na parede, que certamente me
ouvirá.
De outra ponta estas janelas
com ferrolho antigo que rangem e gemem durante os ventos costeiros
intermitentes do inverno praiano também não irão se abrir no momento da minha
prece matinal que todos os dias enfrenta o frio da manhã através da veneziana
orvalhada. O céu escuro e estrelado irá receber a minha intenção de chegar ao
Divino com meu pensamento sendo conduzido pela suave maresia da madrugada.
Minha fala se cala para todos, menos para mim.
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