sexta-feira, 6 de junho de 2025

O descarte

 


Nas idas e vindas da rua, quando me apronto para jogar pesado o jogo da vida de verdade, esta que anda no caminho, que tropeça e cai, que erra o logradouro, que conversa com os desconhecidos, que ri de tudo sem motivo ou chora todo dia por nada, é bem esta que me atrai e então me preparo para perscrutar tudo o que rola por aí.

Imagino de antemão que o mal e o bem andam juntos e por este motivo devo estar preparada se surgir algo do meu interesse repentino ou quiçá, alguma coisa que não me desperta atenção e justamente por isso me debruço no ocultado contando quase sempre com a mesmice que levanta barreiras e deste jeito constrói o meu caminho de sol e sombra.

Foi assim naquele dia sombrio e gelado que me deparei com uma quadra com característica de abandono e que aos meus olhos seria um alerta, um grito de socorro, tal a tristeza que emanava do lugar.

Uma poltrona de design bonito restava ali, na beira do campinho encharcado, abandonada, desgastada e suja, porém, com sua dignidade mantida, afinal fez parte da decoração de um lar, acomodou uma mãe amamentando seu filho, um idoso no descanso, um professor em suas leituras, uma avó com o neto no colo, uma dona de casa aguardando a chegada de familiares ou somente um lugar especial para receber visitas.

Pensei em todas opções para um enredo importante para este triste fim, porém, o que me chamou a atenção de fato é a facilidade no descarte e descuido de praticamente tudo. O bota-fora circula por atitudes, diálogos, locais, pessoas, objetos e moradias, queimando o antigo, o perene, o bem posto, na tentativa de apagar o antes.

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente texto Verinha.Vc captou o essencial do descarte .A facilidade do abandono.Bom e ruim.(Ana D'Avila).

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