Nas idas e vindas da rua,
quando me apronto para jogar pesado o jogo da vida de verdade, esta que anda no
caminho, que tropeça e cai, que erra o logradouro, que conversa com os
desconhecidos, que ri de tudo sem motivo ou chora todo dia por nada, é bem esta
que me atrai e então me preparo para perscrutar tudo o que rola por aí.
Imagino de antemão que o mal e
o bem andam juntos e por este motivo devo estar preparada se surgir algo do meu
interesse repentino ou quiçá, alguma coisa que não me desperta atenção e justamente
por isso me debruço no ocultado contando quase sempre com a mesmice que levanta
barreiras e deste jeito constrói o meu caminho de sol e sombra.
Foi assim naquele dia sombrio
e gelado que me deparei com uma quadra com característica de abandono e que aos
meus olhos seria um alerta, um grito de socorro, tal a tristeza que emanava do
lugar.
Uma poltrona de design bonito
restava ali, na beira do campinho encharcado, abandonada, desgastada e suja,
porém, com sua dignidade mantida, afinal fez parte da decoração de um lar,
acomodou uma mãe amamentando seu filho, um idoso no descanso, um professor em
suas leituras, uma avó com o neto no colo, uma dona de casa aguardando a chegada
de familiares ou somente um lugar especial para receber visitas.
Pensei em todas opções para um
enredo importante para este triste fim, porém, o que me chamou a atenção de
fato é a facilidade no descarte e descuido de praticamente tudo. O bota-fora
circula por atitudes, diálogos, locais, pessoas, objetos e moradias, queimando
o antigo, o perene, o bem posto, na tentativa de apagar o antes.
Um comentário:
Excelente texto Verinha.Vc captou o essencial do descarte .A facilidade do abandono.Bom e ruim.(Ana D'Avila).
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