domingo, 20 de abril de 2025

Como sempre

 


Como sempre abro os olhos e dou de cara com a vida, esta daí que por vezes se escamoteia parecendo me puxar para trás, em outra ocasião se esconde me fazendo sentir estonteada, sem rumo e com um sentimento de estar fora dela, em seguida quando bato na porta dizendo sem rodeios que hoje estou com muita coragem, que não tenho dor nenhuma, meu espirito está leve e ela pode dispor de mim para o que vier, ela manda dizer que não está, e, por último e não menos importante ao me confrontar repentinamente  em alguma esquina, ela finge não me conhecer.

Decidi que não me importarei se algo ou alguém está à minha espreita ao abrir meus olhos para o mundo. Nada de vislumbrar paisagens idílicas, passarinho no fio de luz, quero-quero grasnando sem rodeios, cachorro abandonado uivando de tristeza, nada de orvalho na grama, nada de maré alta ou baixa, ventos uivantes ou calmos. Não disso irá compor o dia que se inicia. Este me parece ser o recado dado.

Existe a simplicidade de um despertar que retira mansamente a veste da noite em que nos abrigamos e que protege corpo e espírito e com esta concordância nossos olhos se abrem ao mundo: sem as franjas do pensamento, das alegorias, da impertinência e da audácia de perseguir a dádiva da Vida.

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