domingo, 19 de janeiro de 2025

Ventos uivantes

 

Por aqui, neste pedaço de mar e terra insólito por calmo ser, o vento chega como quem não quer nada parecendo até pedir desculpas antecipadas por estar, eventualmente embaralhando o que tiver pela frente acredito até que por pura diversão, enquanto o calor grassa na areia escaldante o vento resolve brincar de esconde-esconde, aparecendo e desaparecendo como que por mágica.

Tudo inicia com uma calmaria inquietante com um ou outro sopro inusitado que levanta aqui e ali um Areial e logo se acomoda, disfarçando o que há de vir, balançando a vegetação dos cômoros, tapando as casinhas de tuco-tuco e de coruja, com este ar de normalidade e refresco.

Como os tempos são de números excedentes em tudo o que se refere aos calores de verão o primeiro a se manifestar na ventania é bem no rés do chão quando o sopro afoito açoita os comandantes moradores de abaixo do chão que ao se refestelar em águas mais quentes se aquietam no sufoco do areiame e correm para o buraco.

Depois, os humanos iniciam sua jornada de corrida ao chapéu, ao guarda-sol, à canga e o que mais houver que possa voejar nos braços do vento airoso e forte, aliás, ele sempre com um cínico sorriso nos lábios.

Mas o rumoroso destino da tempestade de areia ultrapassa a meia praia e se joga com furor nos morros, nas estepes, nos matos de eucaliptos e de pinus não havendo uma única folha que não passe o dia se virando e revirando com esta brisa indômita.

E deste jeito vai passando o tempo e as vestes, as bandeiras, as ventarolas, os banners, já esfarrapados não se cansam de ir ao mar por ser um movimento atávico de cada praieiro gaúcho. Faça sol, faça chuva, faça vento, lá estou eu!

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