Por força das circunstancias
da vida e do imponderável o chaveiro de parede amplo e vazio da minha casa foi
alvo de ocupação por aldravas alheias, escolhidas pela vizinhança próxima que
por motivos diversos necessitaram que eu mantivesse a guarda dos segredos de
suas residências com ênfase na morada de praia, casa esta que possui uma alma
diferente da residência com outro norte e outro viés de personalidade alhures.
A casa praieira, em princípio,
não tem segredos por força da época de sua invasão que pode – por obrigação,
muitas vezes – receber pessoas da família, outras nem tanto e outras sem
nenhuma ligação ou contato com a história do lugar.
A casa de veraneio já vem
aberta com sol e ventania em todo o espaço sem falar que inexiste caluda entre
quem ocupa e tudo corre solto a começar pelas paredes que não tem ouvidos, as
janelas com as cortinas esvoaçantes e fora do prumo, as areias indomáveis
cobrindo móveis e utensílios pousando no chão já esparramado.
Fui escolhida pelos amigos
para que retivesse a chave da morada por um tempo e as entregasse para o
convidado proposto, o que me fez pensar um pouco na história de cada ambiente,
das paredes impregnadas com os mantras entoados desde sua feitura, o cheiro do
reboco e da tinta fresca nas divisórias recém construídas, o recanto preferido para
fazer a reza, a janela de qual sala ficará frente ao mar e assim, peça por peça,
foi criada com propósito especifico de habitar as cercanias do mar.
O chaveiro terá a missão de
escancarar a casa com história formada de modo receptivo neste momento, para
que, em tempos de verão e calor, os moradores transitórios possam escrever nas
areias da praia suas histórias efêmeras. Aloha!