Eu tenho certeza que ela está por aqui em algum lugar sabido, mas ignorado, quem sabe à espreita atrás daquele poste, ou, se virar a esquina ela será descoberta, quem sabe ainda atrás de alguma nuvem se disfarçando no ir e vir do vento aguardando a chegada do melhor momento para se derramar sem dó nem piedade por sobre esta terra ressequida e ávida do seu complemento essencial para vida.
Empedernida e voluntariosa, fica espiando o vai e vem do clima que cheio de humores ora emburra e empaca no grau máximo solar ou resolve cair em queda livre deixando seres vivos e outros nem tanto, perdidos, olhando para cima a espera de um desenlace, afinal o olho do furacão está sempre na berlinda.
De certo modo o preparo é intenso uma vez que se ausentou por um período voluntariamente e agora deseja retornar ao ponto correto de sua glória corrigindo o clima encardido e ressequido. Deverá surgir em parceria com o céu que a auxiliará na performance do derrame, junto aos sons estrondosos das nuvens no bailado da tempestade. Fico olhando para todos os lados, aponto o nariz para cima e para abaixo e busco os sinais característicos da tempestade sem encontra-los.
Mesmo que ela não ressurja nestes
dias com a força desejada gosto de imaginar a apoteose de sua entrada nesta
estação seca e posso sentir em minhas narinas o vento gelado que a envolve em
seus braços como se fosse um choro repentino se derramando por sobre a natureza
que, emocionada, responde com verdejante entusiasmo. A saudade de se derramar
regularmente cessará assim que a garoa se fizer presente como se fosse um choro
convulsivo.