Bem ao contrário do que imaginei ao me dirigir ao templo de areia sol e mar que me afronta com luminosidade todos os dias e mesmo havendo ameaça de quenturas do norte, os moradores da beira do mar estão quietos, escondidos até, eu diria, espreitando para ouvir e ver melhor se realmente os ventos amainaram, se as ondas deram uma recuada, se os predadores praianos estão ausentes, esta uma ameaça permanente quando se trata da chegada de alegres tempos quentes e ruidosos.
No caminho vazio de tudo menos da natureza soberana não encontrei nenhum rastro importante que me fizesse enxergar que a vida marítima esteja se movimentando normalmente. Comecei a desconfiar de mim mesma uma vez que os pensamentos estavam voláteis e aéreos ficando mais difícil a cada passo prender no momento presente alguma ideia concreta. Melhor não me assustar diante da imensidão do mar e confiar em seus segredos.
Chega então de esforço, vou
acatar este espírito do tempo calado que se nega a dar uma pista de como será a
próxima estação neste fim de mundo paradisíaco e assim determinada fui buscar
dentro de mim alguma lembrança de passado recente a respeito do movimento diário
das franjas do mar sempre tão bem frequentado pela bicharada. Foi com surpresa
que nada encontrei, nenhuma gaveta da minha memória estava aberta, nenhuma
linha escrita restava aparente. Girei os calcanhares e voltei a casa e me
surpreendi ao perceber que todas as janelas e portas se encontravam fechadas, cortinas
corridas e uma penumbra intimidante. Assustada desconfiei que pudesse ser apenas
um desvio senil de imaginação. Sentei e esperei.