quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Outra janela

 

Eu não lembrava se havia uma janela que eu pudesse abrir e assim vislumbrar o mundo lá fora em que as nuances climáticas, urbanas, rurais e marítimas estivessem a postos apenas para que eu pudesse escolher o que enxergar e não me deparar com esta névoa constante que suponho esteja dentro de mim como uma forma de me proteger dos melindres do tempo passando, das folhas caindo, do sobe e desce das marés, do vento intermitente e das chuvas que brincam de esconde-esconde com o clima. 

Pode ser também que o meu anjo da guarda se cansou e se acomodou fechando a veneziana e a escondendo atrás da cortina com a esperança que eu não me desse conta que sempre há uma forma de enxergar o mundo em recantos escondidos, em uma perspectiva de luz e sombra inusitada, através de um vento ao contrário e de um passeio das nuvens mais baixas com o intuito de aterrorizar o campo. 

Ao aventar tal possibilidade resolvi procurar esta janela que poderia estar por aqui e que me foi escondida - talvez até mesmo por mim - cansada de olhar sempre para o mesmo lado e enxergar sempre as mesmas coisas. 

Com muito cuidado corri a pesada cortina que por incrível que pareça se confundia com a parede da sala e descobri por ali que com apenas um empurrão delicado se descortinava uma paisagem ainda incógnita para mim e com muita pressa descortinei aquele recanto novo e fui verificar se persistia a névoa no entorno. 

O que surgiu a mim foi uma ampla janela que descortinava um mundo à parte, onde a claridade quase me cegava e o ar reinava em paz absoluta sem que uma folha se mexesse e todos os componentes do meio da rua se achavam criteriosamente colocados onde sempre estiveram. Havia ausência de ventos, de chuvas e de andares de pessoas. Parecia um retrato colorido de uma paisagem qualquer capturada por uma máquina de fotografia instantânea, eternizando o momento único de paz absoluta. Com muito cuidado fechei a janela e corri de volta a cortina para que esta imagem encantadora ficasse a alimentar minha alma.

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