Pé-ante-pé e vagorosamente resolvi dar uma espiada por cima do muro invisível que me cerca e que nunca ouso explorar por haver adquirido uma forte indolência e certa acomodação da minha curiosidade com as coisas que trafegam do outro lado. Afinal, como ter certeza que fazer uma portabilidade de assuntos de menor importância irá ter um resultado mais que perfeito nas minhas intenções mais honestas e verdadeiras que, de tão consolidadas, dão nó em pingo d’agua.
Mas, vez ou outra gosto de arriscar o que desdenho por princípio só para ver se ainda sou a mesma ou se ando por aí travestida de outra, fingindo comportamento que sofreu mudança sem que tenha percebido e assim, nas escuras, minhas mascaras vão se alternando sem motivo aparente, ou apenas rastejando com intuito subliminar a minha alma.
Por este motivo bem pontual, neste dia parado e morno em que a natureza resolveu dar uma pausa em si, achei por bem ousar e espiar o desconhecido e assim me despi da preguiça e enverguei a capa da desenvoltura porque deste modo preventivo fica mais fácil desistir da estripulia e voltar a ser branda. Fiquei mais atenta e me senti como se fosse um espião da vida ao investigar se existem de fato melhorias próximas a mim, e, se houver prometo que vou calibrar o novo cruzando com o velho que me acompanha, farei um “noves fora” e me darei por satisfeita com o resultado.
Para minha surpresa o que se
deu a ver ali do outro lado eram apenas episódios mambembes e vazios de
significado que talvez ali tenham se instalado apenas para provocar uma
curiosidade que de minha parte feneceu de há muito, exatamente porque minhas
convicções nunca se apartaram de mim e assim cheguei a conclusão que na minha
seara tudo corre bem a despeito das
armadilhas que vez ou outra me deparo.