Tropecei naquele lugar o que me pareceu ser mais uma obra do acaso, ou das pernas cambaleantes que insistem em se movimentar, ou do olhar que nem tem mais tanta força para enxergar o óbvio preferindo andar rastejando pelas tramelas da vidraça, pelos cantos da casa ou se estendendo, bem longe, até onde a vista alcança trazendo para dentro de si o que de mais precioso existe para retratar e rememorar quando for necessário.
Porém, não havia como negar que o chão me chamava à chincha me fazendo baixar a vista e verificar que o lugar era amplo e não tinha paredes aparentes, mas, observando melhor havia uma tênue e quase invisível demarcação no perfil tão plano e acabei por pensar que seria obra da natureza que finalmente teve uma folga e pode, ora em diante, manifestar-se através dos seus desenhos naturais e a seu modo, sem interferência de pés sujos.
Como o deslize me obrigou a ter mais cuidado na passada, firmei o corpo para que ele não me traísse e enveredei o olhar para escrutinar o que surgiu de repente no solo, imaginando que alguém ou algo queria me passar um recado, ou quem sabe até me segredar o inconfessável e não estava encontrando o modo correto e assim me estancou o passo.
Por ali me assentei e pude
então perceber que o desenho balizado era quase invisível o que deu ares de uma
sugestão, quem sabe aquele lugar me estava convidando para que eu completasse o
riscado e fixasse ali alguns modelos de colóquio invariável, talvez estivesse
sugerindo que neste espaço as palavras escritas tenham um traço marcado pela
natureza, banhadas pela luz do sol que as fixa e da lua que as atenua, seja em
sua caligrafia, seja em seu significado e concluí, finalmente, que ali se
sagrava um lugar perfeito para todo dia escrever uma mensagem que tivesse um
destino etéreo e tão suave como a espuma branca do quebra mar.
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