sexta-feira, 31 de maio de 2019

Veleidades



Estão me sugerindo argolar alguns desejos e sair por ai dependurada neles ou vice-versa como um bom augúrio para realiza-los já que somente querer não anda bastando. Até parece que ora em diante o mundo tenha virado um grande “objeto de desejo” aonde se vai repartindo o que se quer e o que não, como se houvesse essa condição, essa alternativa soberba de chamar a si somente o que sonhamos. A mim, parece que a vida não anda com este viés idílico onde nos farta apenas escolher.

As argolas propõem, em primeiro lugar, que nos atenhamos a vários anseios, inclusive dá uma pinta que todos possuem uma titulação alegórica querendo, de certa forma, convencer o incauto de que necessita com urgência daquele propósito e que sua existência irá se completar se o alcançares. Tudo isto aparece como se os referidos não fizessem parte do cotidiano do simples mortal que acorda, trabalha dá uma espiada básica na vida e repousa novamente e tudo recomeça.

Deste modo vão surgindo pelas beiradas as inutilidades do dia que promovem nosso desvio de atenção, que calcificam nosso raciocínio, que destemperam a receita perfeita resvalando do que realmente importa. O sino do amanhã bate sem parar afugentando energias que são essenciais no presente e que faz a nossa vida andar, a par e passo, mas vai.

A sugestão do patuá, entretanto, não desaparece com facilidade e fica ali no limbo da nossa mente porque ele quer transmitir a “todo pano” que será a solução de nossas mazelas, do mal querer, da traição, do abandono, do recado enviesado e do alcance dos propósitos do mundo. Assim, ele sugere que se ande com o pescoço amarrado na cobiça de meia dúzia de intentos.  Parece pouco para quem deseja estar desamarrado de tudo.

quinta-feira, 30 de maio de 2019

Via Láctea por Nelson Pafiadache da Rocha



Após inspirar-me na Via Láctea de Olavo Bilac, da sua inquietude de então, juntei com a minha de agora para imprimir nos braços abertos da internet aquilo que o cenário nacional nos aguça. Dei corpo e alma, mas faltava algo mais, pois precisava vestir-se bem para lançar-se ao Mundo. Eis que surge uma fada-madrinha que o veste com roupa de gala. Esta costureira das letras que tão bem as tece oferta mais um pouco de si, como tão bem acostumados estão os leitores deste espaço. Por Nelson Pafiadache da Rocha

Via Láctea (Olavo Bilac)

“Ora (direis) ouvir estrelas!
Certo perdeste o senso!”E eu vos direi, no entanto,
 “Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas”.

          E eu vos direi, entretanto,  que não perdemos o senso, apenas nosso pleito parece que não é terreno porque falamos e não nos escutam, porque, aparentemente perderam eles a noção. E eu vos direi, no entanto, que não daremos trégua, que lutaremos, que gritaremos, porque a órbita de quem não nos ouve é terrena e de fato prestam atenção  mas fingem que não,  porque não anseiam por nossa crença.. Perdeu o senso e muito mais, também a vergonha, a decência e a honra, porque foram engolidos, carcomidos e tragados pelo vil metal conquistado sem esforço, apenas tendo enunciado o seu preço.

          Claro, que essa gente sem discernimento vale quanto pesa e descontado o vestuário de luxo, gravatas e ternos importados, valem menos que um par de meias de camelô. Eles não têm decência para vislumbrar o legítimo, apenas proliferam o que lhes interessa: conluios, tramas e trambiques, no Plenário, na Tribuna e também no Átrio. Por lá ninguém é virgem.

          Nossa Virgem Maria que nos acuda e peça ao Senhor que coe uma réstia de luz nestes privilegiados, ou ao menos, as estrelas, pois lá pousa nossa crença, nossos ideais e as nossas esperanças. É para lá que olhamos em prece, reza forte, clara e uníssona, para que muita coisa mude na vida dos miseráveis, dos desempregados e também dos jovens que se pensam maiorais. Para que mude a visão dos iludidos que acreditam que outro mundo possa ser possível sem algum sacrifício, renúncia, idolatria, ativismo e até volúpia.

          Ora direis, homens do Poder, sem coração, perdestes o senso e, se não ouvem as estrelas, não podeis ouvir seus semelhantes, menos ainda podeis amá-los e com menor probabilidade a nós, que denunciamos as mazelas que se avolumam  e aviltam, que engrossam as massas de manobras em movimentos espúrios. No lado a lado da trama sórdida muda-se o costado conforme a banda ladina e seus iguais, porque na calada da madrugada – todos os gatos são pardos – e deste modo, para a massa, a verdade se oculta.

          Seguem lépidos e faceiros nos folguedos do Momo, de Caruaru ou onde estão as ditas bases que nunca lhes colocamos os olhos e, verdade se diga, existem outras rotas que jamais tomaremos ciência e que estão sob as expensas de quem não perde o senso.

           Ora – direis - ouvir estrelas! Perdeste o senso e eu vos direi: amai para entendê-las, pois só quem ama tem ouvido capaz de escutar e de entender estrelas, porque elas falam para nós, nos dão alento, nos tocam a alma e nos fazem humanos, porque a isso nos candidatamos e percorremos grandes distâncias para vencer, com empenho, até para além do suportável. Enquanto vocês, reflito, arruinaram o senso de tudo, mas isso logo muda e seremos felizes, não só porque vocês morrem um pouco a cada dia pelo nosso olhar, orientado por quem está acima das estrelas e a tudo vê, desde os nossos sonhos, as nossas esperanças e o nosso amor incondicional e por tantos que precisam de alento, porque sabemos que só quem ama, respeita o homem e pode ouvir e entender as estrelas!



segunda-feira, 27 de maio de 2019

As Zonas que habitamos, até sem frequentar!



Amigos, o texto que publico aqui não é de minha autoria, porém me foi enviado com especial carinho por um amicíssimo meu, incorrigível, que vê a vida se esvair sem ter concluído múltiplos planos, mas mesmo assim, quando a derradeira hora chegar, partirá mentindo que valeu a pena. Que pena, agir com incoerência, mas que seja perdoado, porque humano que foi não podia ser perfeito e acabado!

As Zonas que habitamos, até sem frequentar!

Zona de Conforto é pior que a do Meretrício, não pelo objeto em si, mas por mostrar quem tem sangue nas veias, pulsos de aço e coração cheio de amor para dar e vender. Não vire o rosto, não baixe os olhos e nem faça cara de nojo, pois grandes escritores só assim foram considerados, porque descortinaram tudo quanto foi possível para rasgar o véu da mediocridade e da hipocrisia e só ficaram na história porque enfrentaram com fineza de trato as letras e foram incansáveis em evitar meias palavras, porque se assim não fosse, talvez você não ainda vivesse em pecado por pensar com alguma picardia, viajar ao plano do inusitado e dizer, alto e bom som, que és humano, que vive que ri e que chora, porque és a maior obra viva do Criador.

Se fores assim, por certo tem amigos, tem confidentes que não são inconfidentes, tem segredos de alcova e só privou e a dividiu com a fina flor do bem, do amor e da paixão. Creio em ti acima de todas as coisas, como alguém que sei que no penhasco me esticará a mão e não engolirá o último pedaço do pão quando possamos dividir a fome. És um ser que orgulha teus amigos, tua família e até o Padre, por mais tradicional, convencional e conservador que ele seja, sempre terás dele a predileção. Ora, quem dera se todos os humanos assim fossem, sem vergonha, sem receio e sem vulgaridade ao ponto de cumprimentar a todos e sentir-se bem até dançando no cabaré, sendo cordiais e solícitos para ladrões, prostitutas, rufiões até para os safados dos políticos, sem, contudo se permitir aconchegarem-se à promiscuidade, à vã luxúria e ao uso das pessoas, como se objeto fossem.

Eis, pois meu grito, meu desabafo, que em verdade é uma conclamação para que sejamos mais diretos, sem truques nem magia, solidários, fraternos, caritativos, amigos e até orientadores dos incautos. Sejamos, pois, a efetiva externação da obra sublime que nos deu vontade, fala, visão e senso crítico, mas que também nos impregnou de muito amor, paixão e belos sentimentos por quem amamos.

Gosto amargo

  Girei os calcanhares com gosto amargo na boca travando meu raciocínio para reconhecer o espaço de tempo que ocupo desde há muito e que hoj...