Estão juntas, mas de certa maneira percebo
que existe um aparte e não é de hoje. O quinteto que se estabeleceu na beira do
mar - sabe-se lá por qual motivo - resolveu que seria bom filtrar a paisagem,
se misturar entre si, deixar o sol entre galhos, empanar o oceano da vista de
quem mora mais para trás.
Acho
que é uma brincadeira da primavera que fica revolvendo sementes, desafiando
pistilos, estames, anteras e que tais a se espalharem pela orla e polinizarem
sem critério o solo. Assim nasceram aquelas ditas, mas uma delas já recebeu do
mar algumas surras bem sovadas porque se encontra desfolhada e com seu
esqueleto aparente.
Tenho uma inveja seríssima delas porque vivem
de cara na beira da praia e podem ter uma interlocução com o mar genuína e da
melhor qualidade. Podem se divertir com as areias a invadir seus galhos durante
o sopro do nordestão, podem cantar entre guampas com toda a gana de suas folhas
que dificilmente alguém poderá ouvir e assim elas vão levando a vida. Indomáveis
e senhoras do campinho.
De longe me pergunto como seria se eu ali
estivesse morando, ao lado, embaixo ou bem pertinho. Certamente eu agiria como
elas, me espalharia o que pudesse para ter vista ao mar, romperia o fundo da
terra em mil mudinhas para que estas acompanhassem a minha morada e assim eu me
cercasse com toda circunstância do
prazer de ter na frente a fuça do mar a me observar. E eu a ele, hipnotizados.
Mas sem duvida o que mais me chama a atenção
é a parceira que, sem vida, ali se encontra de pé e impávida, sem suas folhas a
lhe proteger e a lhe encantar, sem roupagem e à mercê de toda a intempérie que
tem suas características exacerbadas em todas as estações neste fim de mundo. Penso que a estreita proximidade com o oceano
permite que se tenha um fim digno e arrebatador.
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