O tempo contado com sofreguidão desperta a
pressa em atravessar a vida que fica dizendo baixinho que se andem a par e
passo, que não se pule etapas, que é sempre bom darem uma boa olhada no entorno
para se certificar, que se estanque com desenvoltura os pés no chão e observe. E
deste modo, de tanto em tanto, se obriga a derrubar o que vê pela frente na
tentativa de fazer parar o que, de repente, não precisa cursar e, mesmo assim, tudo
isso não é visto a olho nu, não acontece de uma maneira só, não opera em modo
automático nem proporciona bem estar natural.
Os recados são dissonantes e muitas vezes a
sutileza desta teia bordada ponto a ponto com orientação temporal vai sendo
entrelaçada na pressa e assim não dá para sentir que por ali muito nó cego está
sendo pendurado nas pontas de lança que marcam o tempo. E deste jeito corre-se
atrás do que não se vê, busca-se o indisponível, alcança-se o indesejado e se
deixa para trás o que lhe vinha ao encontro, dentro da sabedoria do momento que
a natureza dita soberana. E assim vai-se topando com as variantes sem ter a
percepção exata do próximo ponto que se entrelaça nas amarras do período.
Tudo isso vai acontecendo enquanto os
ponteiros daquele relógio avançam cumprindo o seu destino de encarcerar os acontecimentos
que são previstos e os que nem tanto acabam sendo pressionados nos exíguos
espaços entre os marcados. O olhar se prende ao tarefeiro em muda conivência tendo
na cabeça uma perseguição resoluta para determinar a história.
Apartou-se a muito da consideração dos céus
para que se concretizem nossas decisões, como, ao observar os ventos percebe-se
que este fato vem demonstrar que é para mudar a direção, que a chuva abundante
se derrama avisando ao jardineiro que seus planos para hoje terão que ser
mudados, que o sol se escondeu para proteger a massa que protesta, que o mar se
agigantou porque hoje é dia de faxina no fundo mar, que as areias estão
correndo a toda velocidade para cima das dunas para que estas se fortaleçam
após seus areais terem sido vítimas do arrasta pés de beira de praia. E enfim,
a lua surge no céu para contar que a noite está chegando, essa sim, soberana
que esfacela um pedaço desta geringonça que insiste em contar o tempo em
ponteiros.
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