quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Um passeio público


Dobrei a esquina naquela ventania peculiar de inverno no litoral norte que só não digo que é de renguear cusco porque a linguagem nestas paragens e neste espaço serão outras. Então, falando dos ventos, eu diria que aqui eles são os enfunadores de vela, sopram brisa forte e intermitente que impulsiona as pás da energia eólica, generosa e abundante. Mas não é do vento que eu queria falar, é da esquina, propriamente dita, que me atropelou depois de algum tempo de ausência nesta beira mar. Não sei bem quem chegou primeiro, se eu, ou ela. Talvez tenhamos chegado junto.

Então, parei de supetão porque meus olhos não podiam acreditar naquele passeio longo, asseado, desenhado com esmero, deixando entrever bem ao longe o que seria esta passagem quando o sol brilhasse mais forte. Não havia nenhum empecilho ao longo dela e ao descer os olhos vi desenhos caprichosos, com referência à cidade, milimétricamente colocados.

A sensação que eu tive foi de importância! Senti-me auferida de dignidade por ter ao meu dispor esta via que além da vista mutante e linda fará meu coração bater com mais fôlego, para mais rapidamente conferir todo o percurso. Parece-me que eu e tantos outros moradores fomos lembrados que a rotina na cidade litorânea é partilhada por pessoas que todo dia vem dar sua espiada nas ondas, fazer uma prece, espreguiçar ao sol de inverno ou conversar conversas boas com qualquer um.

Enxerguei o futuro do próximo verão quando os ocupantes de bicicletas, jogadores de bola, pais com carrinhos de bebê, vovôs de bengala, patinadores, caminhantes e corredores sentir-se-ão da mesma forma importantes. Uma calçada sem obstrução e com finalidade cumprida, além, é claro, da reverencia ao mar.


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