Sentei ali, não porque estivesse cansada, mas
porque ele sempre me chama, de longe, muitas vezes vazio e solitário outras
vezes alguém toma assento, mas me parece que ninguém lhe dá importância de fato
ao seu propósito.
Ali me abanquei para ver o que ele estava
enxergando e que eu não via.
Primeiro, fiquei olhando para o chão como uma
pessoa bem velhinha que me deparei dia destes na rua. Estava tão encurvada
olhando a calçada que julguei que iria cair, ou bater em alguém. Não usava celular,
óbvio, ela não faz parte deste tempo em que a comunicação é toda disfarçada,
errática, dúbia e muitas vezes perversa, sem falar na privacidade. Ela queria
ter, com esta visão focada, a certeza de estar na marcha correta e por isso observava
sua caminhada com tanto apuro. Fixei-me nela. De repente, estancou e levantou a
cabeça empedernida, olhando muito fundo ao longe. Com a mesma eficácia baixou o
olhar e reiniciou o passo. Impressionou-me a cadência certeira e a
incondicional confiança na retomada do passeio. Desejei adivinhar-lhe os
pensamentos.
Resolvi então me colocar no lugar dela para
ver se eu abduzia sua mente naquele momento. Assentei-me e voltei meus olhos
para o chão e ali estavam areias de praia, uma vegetação indômita, formigas, caranguejos,
tatuíras mortas. Finquei com mais força
o olhar e então eu vi, tantas pegadas de adultos, animais de estimação e crianças
que balançavam suas perninhas no ar.
Todos os pés ali estavam e eu fiquei imaginando
quantos destinos aportam neste paradouro, quantos metros de distância estão
carregando para obter um descanso, um pensamento parado. Uma olhada para o
futuro incerto. Um desejo indeterminado ou até, quem sabe, a concretização de
algumas alternativas válidas. Enxerguei com muita clareza vários destinos e uma
só paisagem e todos se derramavam incontinenti, premidos pela emergência lúdica
que o local facilitava.
Sentindo uma inspiração, levantei a cabeça
para, de certa forma, continuar o visto e dei de cara com o horizonte infinito
onde o céu encontra o oceano em uma paisagem única e limpa, a qual ninguém
colocou nenhum estorvo que impeça de ver alhures.
Tenho a certeza agora que aquela senhora idosa
pensava nisso a cada vez que estancava o passo e levantava a cabeça. Mirava sua
rota com olhos absurdos de quem não vê os obstáculos, mas uma trilha livre.