Multifacetados, o tempo dos
dias segue inauditos, céleres e performáticos sem que se consiga dominar todos
os seus significados parecendo de vez em quando que não estamos na vida, mas
ela está em nós, empurrando ladeira abaixo e acima no roldão. Ao levantar a mão para fazer um cumprimento,
ao cair na tentação de dar uma parada, no atropelo de esboçar um sorriso, na
ânsia de um abraço, no desejo de um beijo, parte de nós se abstrai. Furta-se de
enxergar e nossos olhos são feridos pelo fulgor sem fim de todo o entorno autocentrado.
O mundo todo brilha e se
reflete incessantemente sendo que alguns destes raios transparentes não trazem
mudanças significativas apontando apenas rumos traçados tempos atrás, como uma
marca tão forte que parece impossível sair do caminho. Escondidos no prumo,
engolidos pela mesmice, encurralados em falsa segurança, fincamos o olhar no
espelhamento que se impõe, presos nas horas desesperadas de se ver refletido na
luz que somos obrigados a possuir.
A meta é seguir em frente a
qualquer custo não ocorrendo que entre um fulgor e outro poderá haver uma
trilha secreta, um caminho não sugerido, uma salvação de alma penada, uma
credulidade de única escolha, a fatalidade de outro jeito de fazer as coisas.
No viés de tanto clarão
jorrado por, e em cima, da nossa existência, não parece viável a escolha de um
caminho mal iluminado, uma rota com novas pedras, outros andantes, dificuldades
jamais imaginadas e na contrapartida, quem sabe, uma ladeira íngreme que,
surpreendentemente, ao invés de te fazer subir na exaustão, te puxará docemente
para o cume. Quem sabe o abismo que se apresenta assustador não fará exatamente
o contrário, oferecendo uma descida com acolhimento delicado em seu leito.
A opção de pisar em solo
diferente, com pedras reais empoeiradas pela passagem de aventureiros iguais,
alamedas verdes algumas e outras nem tanto, cantos mais escuros reclamando com
toda força uma descoberta, cavernas úmidas a espera de uma nesga de sol. Jardins
desiguais pelo simples fato de uma terra ser mais fértil e outras nem tanto, mas
que aguardam o desafio e por este motivo entregam uma chance. Caminhos e
descaminhos se dobram como sinos muito antigos, um alerta para esta vida
viciosa do refletir-se.