Escrava
ou dependente de academia. Escolha o mais apropriado, mas a verdade é que eu
sou uma destas, ou as duas, e lá me vou ao paraíso dos apaixonados por seus
corpos, músculos e definições, inúteis ou fúteis, todo dia. Mas como há gente
para tudo, o tal recinto equipado com ferro retorcido nos mínimos detalhes
abriga uma fauna digna de muitos relatos. Mas todos na busca da saúde.
Nesta academia que agora freqüento, só tem som
bate-estaca mas é proibido falar alto, fazer turminhas e agitar. Baixe a
cabeça e trate de sair logo dali, porque a densidade demográfica no espaço, que
é enorme, também é grande.
O
que me chama a atenção neste lugar não é exatamente o ambiente e o clima mas,
os detalhes dos freqüentadores. Quase todos chegam com a cara tão
amassada que com certeza teve alguém que lhe chutou da cama, ele bateu no
tapetinho, pegou uma garrafa de água e se foi. Chega meio atordoado, com marcas
de lençol no rosto e, evasivo como um sonâmbulo, anda pelo recinto com a ficha
na mão, sem saber aonde ir. Conceito moderno desta academia: cada um por si.
Outros chegam saídos do banho com certa pose
cumprimentando o “personal” com um tapa nas costas digno de fazer cuspir o café
da manhã. Ali se inicia o ritual de conduzir o aluno pela mão, carregar os
pesos, puxar o saco e falar sem parar toda e qualquer bobagem. Conceito
moderno: 1 + 1 = 2 e assim sucessivamente, se multiplicando e explodindo nos
incensados metros quadrados.
Parto
agora para observar o balcão das fichas dos alunos colocadas em um móvel. Ali é
o recanto do status por aqueles que ignoram
o reles vestiário com armários para colocar seus pertences e, inconformados com
a obscuridade, preferem deixar em cima do balcão, de maneira
muito casual, seus ícones como uma única chave solitária com a marca Mercedes,
telefones celulares que fazem um duro contraste com o molho de
chaves com penduricalhos tão estranhos que fica difícil imaginar a feição do
seu proprietário.
Mas nada é mais singelo do que a chave do carro que
não é mais chave, é um cartão, colocado displicentemente como se nada
significasse, no meio de tantos objetos contraditórios entre si.
Finalizando
meu treino relâmpago que acontece todos os dias, paro para assistir o desfile
das meninas que saem do vestiário pisando forte com o salto 8 no piso
flutuante, reverberando vários tons acima do bate-estaca, com a retaguarda
malhada empinada, saia lápis, cintura marcada, maquiagem excessiva, colares e
pulseiras cintilantes, cabelo fake tipo piaçava. Antes
de sair porta afora, dão voltas e mais voltas, falando com um e outro, para se
certificarem que todos as estão observando.
Entro
muda e saio calada, mas desamassada.