Não sei bem quando ou onde me perdi, me deixando levar
como se fosse uma desgarrada folha solta ao vento, batendo e me ferindo em
redobradas muradas, planando na vida sem rumo. Mas assim foi e fiquei deste
jeito meio abusado de recolhimento, somente na observação do entorno e
esquentando a cabeça, pelo sim e pelo não.
Quanto mais mergulhada no silêncio, mais apurado o ouvido
apreendendo o que quer que seja. O olhar é embaçado mas se aguça e enxerga bem
de todas as distâncias e os julgamentos não são tão doentios quando o pensar se
arrasta como uma lesma viscosa. Virei uma assombração e um fantasma de mim.
Assim, transparente, me facilita vagar pelo olhar
indiscreto que espiona meu dia a dia a cada passo meu, me obrigando a agir como
se a vida fosse uma brincadeira de esconde-esconde. Aproveito e fotografo na
retina uma vista aérea da vida, atualizando a topografia dos problemas,
retirando da toca as soluções ou simplesmente deixando de lado o que não dá
para definir. Agora.
Resolvo encarar o que vem pela frente, mas, antes,
preciso olhar para trás para ver se dou de cara com quem eu sou e estabeleço a
conexão perdida. Achei difícil entrar neste feitio apertado, nesta bagunça
cotidiana com ruídos infernais parecendo que todas as vozes e estalidos habituais
do mundo e da natureza estão em formação de uma orquestra de loucos. Percebo
que nada mudou muito na minha ausência voluntaria e a experiência de ser névoa
foi interessante apesar de considerar que ser diáfana é maçante.
Que saudades de mim.