Desde bem pequena eu tinha meu canto de estudos, de leitura e de escuta.
Escutava os sons da casa, variados em lamentos e ordens, em tic-tac de tesouras
podando sei lá o quê no jardim e mais a algazarra da natureza. Dava para ouvir
os bichos cabeludos se ondulando pela grama quando era época de se
aventurarem por ali. Coitados, seifados em seguida pelas mãos
exímias de nosso jardineiro.
Também havia a música doce da voz da minha avó me chamando para café da tarde.
De frente para minha janela de delírios, ela me aparecia com seus cabelos
azuis. Eu também irei tê-los, um dia. A presença dela nas minhas tardes em meio
a número e letras e uma solidão voluntária, soava como o sinal do
horário da Rádio Guaíba – que não existe mais, infelizmente: pontual. Ansiada
pelo chamado e folga nas letras, voava para a casa dela adentrando a cozinha
decorada em quadriculado branco e azul. Eu não lembro de falar nada..só de
sentir os cheiros de leite quente com café – eu já adorava café preto, mais as
torradas com margarina derretida. Minha avó era moderna, pois apesar de ser
Presidente de uma fábrica de banha, dizia que a margarina fazia bem à saúde. No
mais, ficava por ali ouvindo aquele diálogo caseiro e gentil que me encantava.
Pra variar, eu não dizia nada. Só sentia.
Não tenho, infelizmente, esta proximidade com minha neta que mora longe, e,
que, às vezes, ao estar aqui por perto não dá tempo de lhe
oferecer arroz com ovo que ambas adoramos, dormir juntas, ler gibis e alguns
livros e conversar conversas de criança e avó.
Mas a vida anda e graças a Deus ela já está familiarizada desde muito, com a
escrita e leituras, então, desta vez prometi escrever cartas em papéis
coloridos, letras desenhadas com emoção e conteúdo de amor, certamente. Ela
sorriu um riso azul que lhe é tão peculiar.
Eu vou escrever para
ela, que estou aqui, cravando letra por letra e imaginando o quanto ela poderá
entender da minha escrita. Talvez pouco ou nada. Talvez tudo.
Vou contar que fui ao mar, e minhas passadas foram recebidas pelas tatuíras que
sobem e descem por entre meus dedos, lépidas, talvez medrosas, ou quem sabe,
divertidas. Afinal aqui é o sul, e só faz calor poucos dias do ano. As tatuíras
se divertem com os humanos, quando eles não estão a caçá-las para tê-las como
isca.
Vou dizer que as ondas me trouxeram os peixes “pampinhas” tão ágeis e felizes
que praticamente voam nas ondas e na espuma.
O relato seguirá na perseguição dos sons de sapos coaxando tendo ao fundo os
gritos dos Quero-Queros e as marcas dos caracóis nas calçadas refletindo a luz
da lua.
Nas falas escritas direi que todo dia vejo um gatinho muito lindo saltitando
nos canteiros floridos perseguindo os pássaros, que as borboletas coloridas
correm por entre as flores e que pequenas joaninhas desfilam suas cores
delicadas nas capas dos meus livros e jornais deixados no chão, enquanto fico
ao sol.
E assim escreverei histórias reais e inventadas, para chegar bem perto da minha
neta.
O
carteiro será nosso cúmplice.
Escrever para viver e viver para escrever. A inspiração é o meu objeto de desejo a cada amanhecer e assim minha alma fica fortalecida no encontro do silêncio e da natureza marítima. Leiam com bons olhos! Mail para contato: verarenner43@gmail.com Vera Lucia Renner
domingo, 29 de julho de 2012
Cartas para minha neta
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