domingo, 17 de junho de 2012

Conexão






Cheguei ao domicilio escolhido pelo meu coração e por esta nova fase da minha vida, que insiste em fazer as mudanças sem que eu possa contrapor, e muito rapidamente me instalei arrumando o espaço para então, muito tempo depois, me conectar. Engraçado, pois normalmente me grudo nas teclas antes mesmo de guardar a comida e gelar o vinho. Desta vez foi diferente e impulsivamente resolvi deitar o olhar para o mar, para a rua deserta, as garças na espera, os quero-queros na espreita de gritos estridentes. Final de tarde e o enorme prazer de simplesmente estar. Novamente.

Na escrivaninha fui fazer as conexões de meu computador e percebi que o havia esquecido. Simples assim. Levei tudo da maleta tecnológica, menos o cérebro. Uma espécie de torpor tomou conta de mim, gelei e comecei a fuçar em todas as bolsas, olhei mil vezes a mochila encarregada do transporte da minha vida online e nada. Esqueci mesmo. 

Passado o primeiro susto resolvi então que seria muito legal ficar sem computador e, de certa forma, sem cérebro, sem meu HD externo e me fui a perambular pela casa desmiolada da rotina, uma vez que os rabichos da tecnologia me abandonaram. Minha cabeça viva falhou descaradamente deixando para trás meu dia a dia. 

Virei uma carcaça de carne sem valor de mercado pois destituída de um cérebro moderno.

Senti um vazio imenso e um vácuo que foi preenchido por ficar mais tempo na cozinha, ler os rótulos dos vinhos, rever todas as etiquetas de produtos que eu comprei na corrida sem nem sequer olhar a validade e muito menos o preço. Dar um look naquela revista cheia de pó que me espera há semanas, pinçar aquele livro da quinta fila e revisitar minhas anotações de anos atrás e verificar que não lembro do que eu estava pensando ao sublinhar aquilo e, desta feita, anotei outras coisas. 

De vez em quando eu lembrava do computador mas logo o esquecia tal a sedução das atrações offline. Tratei de colher umas flores e colocar no vaso, bati um papo desconexo com a vizinhança, mudei a posição dos tapetes, ajeitei as cortinas. Sentei, pensei no que mudar para quando o verão chegar. E o tempo foi andando leve, sem sustos e sem surpresas. E sem conexão. 

Tudo que eu descrevi acima era o que GOSTARIA de ter feito.

Dei meia volta na hora....


domingo, 10 de junho de 2012

As ponteiras do dia



Inexorável o dia, todo dia, que aponta as orelhas sempre variando a situação de clima e geografia, pois ele, contumaz, nos afronta com sua largueza e luz, deitando sobre a gente mais uma chance de vida.

Acintoso, nos obrigar a rolar ao chão e escolher que alimento nos fará nos entregarmos à rotina, com prazer ou desprazer, uma alternativa nem sempre nossa. 

A bebida quente ajuda o despertar e quase sempre nos acaricia deixando a mente alerta e tão otimista que, aparentemente, não haverá nada no mundo que vai nos tirar da animação. 

A paisagem é outro aliado e cada um tem a sua determinada por onde escolheu habitar, nos cobrindo de alegria quase sempre. No mais, para tocar a tropa, tem que se ter coragem. 

E lá se vai o dia a trote, uma sorte que ande sozinho os ponteiros porque muitas vezes o queremos fazer parar. Para o bem ou para o mal. Não importa, pois sobre eles não temos ingerência alguma. 

E chega o fim, como tudo, do dito cujo DIA. Chegou mais uma vez a hora de apagar sem olhar para trás nem fazer balanços inúteis, sem versar sobre a futilidade que te enlaçou sorrateiramente e te levou para um campo minado. Sem reclamar da traição, do maldito e malfeito que te fez uma visita inesperada e que melhor foi deixar para lá. 

De instante a instante em que as luzes baixam, a vivacidade fenece e tudo o mais fica para trás é também o tempo de dizer. Amém.


domingo, 3 de junho de 2012

Face a face



Já vai longe a divertida parolice que de tempos em tempos assolava meus dias resultando em trunfos letrados jogados na vida. A mente fervilhava de conversas desarrolhando a boca e buscando entre muitos os assuntos.
 

Não canso de rosnar sobre a mesma coisa mas também não esqueço de lembrar que tantos inícios se dão a partir da tagarelice alheia sendo uns mais produtivos e outros nem tanto. 

Na busca constante de não deixar escapar palavras me vem à lembrança as conversas hilariantes em que a diversão era jogar fonemas para todo lado, restando depois um cansaço mental e uma serenidade que não me era peculiar, mas que em outrem, significava seu maior trunfo. 

O rendilhado de frases  afoito me jogava na frente do crítico interlocutor que airado se punha a me reescrever abalroando minhas palavras, se divertindo em ser eu. Travestido de marionete ousava pinotear entre vírgulas não tendo a coragem de se expor, entretanto. Covardemente se ocultava de mim e de si mesmo  e com este jeito roto saiu do ar. 

Para minha surpresa, eu o vi tal e qual, colorido, sorridente a me esperar num canto de uma sanga. Impecável, de cachecol azul marinho, paletó listrado e cabelos loiros muito bem apanhados para o lado, como lhe era peculiar. Os olhos azuis, sempre zombeteiros, sorriam alegremente e suas mãos acenavam em minha direção emanando muita alegria.

Acordei. 





Duas lágrimas

  O dia chora mansinho se unindo a tantas e tantas outras vertentes cristalinas que brotam de olhos de todos os matizes sempre mantendo a au...