Cheguei ao domicilio escolhido pelo meu coração e por esta nova fase da minha
vida, que insiste em fazer as mudanças sem que eu possa contrapor, e muito
rapidamente me instalei arrumando o espaço para então, muito tempo depois, me
conectar. Engraçado, pois normalmente me grudo nas teclas antes mesmo de
guardar a comida e gelar o vinho. Desta vez foi diferente e impulsivamente
resolvi deitar o olhar para o mar, para a rua deserta, as garças na espera, os
quero-queros na espreita de gritos estridentes. Final de tarde e o enorme
prazer de simplesmente estar. Novamente.
Na escrivaninha fui fazer as conexões de meu computador e percebi que o havia esquecido. Simples assim. Levei tudo da maleta tecnológica, menos o cérebro. Uma espécie de torpor tomou conta de mim, gelei e comecei a fuçar em todas as bolsas, olhei mil vezes a mochila encarregada do transporte da minha vida online e nada. Esqueci mesmo.
Passado o primeiro susto resolvi então que seria muito legal ficar sem computador e, de certa forma, sem cérebro, sem meu HD externo e me fui a perambular pela casa desmiolada da rotina, uma vez que os rabichos da tecnologia me abandonaram. Minha cabeça viva falhou descaradamente deixando para trás meu dia a dia.
Virei uma carcaça de carne sem
valor de mercado pois destituída de um cérebro moderno.
Senti um vazio imenso e um vácuo que foi preenchido por ficar mais tempo na cozinha, ler os rótulos dos vinhos, rever todas as etiquetas de produtos que eu comprei na corrida sem nem sequer olhar a validade e muito menos o preço. Dar um look naquela revista cheia de pó que me espera há semanas, pinçar aquele livro da quinta fila e revisitar minhas anotações de anos atrás e verificar que não lembro do que eu estava pensando ao sublinhar aquilo e, desta feita, anotei outras coisas.
De vez em quando eu lembrava do computador mas logo o esquecia tal a sedução das atrações offline. Tratei de colher umas flores e colocar no vaso, bati um papo desconexo com a vizinhança, mudei a posição dos tapetes, ajeitei as cortinas. Sentei, pensei no que mudar para quando o verão chegar. E o tempo foi andando leve, sem sustos e sem surpresas. E sem conexão.
Tudo que eu descrevi acima era o que GOSTARIA de ter feito.
Dei meia volta na hora....