Parafusos largados, perdidos na beira da
estrada como se inúteis sempre fossem, são a surpresa do ciclista do
asfalto.Topar com os metais que outrora tiveram serventia para formar alguma
engrenagem importante, faz pensar. Eles são de vários tamanhos e enferrujados,
alguns solitários, outros acompanhados de porcas enroscadas na sua estrutura.
Feitos um para o outro.
Pode ter sido um elemento importante na segurança dos freios
do carro e vou imaginando como esse veículo irá se comportar sem aquele
suporte. Será que ficará como nós, que às vezes desenfreados tomamos decisões
alopradas com falta de senso de comedimento que deveria nortear nossas
atitudes? Aproveitamos que algo está errado na engrenagem e seguimos em frente
patrolando tudo. Ao invés de fazer stop em cada esquina, seguimos em roleta
russa da vida. Às vezes, é bem bom.
E se o parafuso for do tanque de gasolina e agora todo o
combustível se foi e brecamos em qualquer capão? Penso que esta ferragem
perdida é semelhante ao nosso estado de espírito ao nos sentirmos esvaziados de
sentimentos em nossa alma, perdida e cansada de tantas tentativas. Ficar
desprovida dos anseios, por um tempo, fará com que a renovação das emoções se
transforme em outra aventura. Esvaziar-se, trará a cura, certamente.
Se o artefato participou da estrutura de prender os faróis na
direção correta, já podemos prever que estas luzes não irão iluminar o caminho.
Como o ser humano, que anda às escuras para aprender a se orientar, pois não há
garantia de se conhecer todos as passagens. A luz irá se fazendo na opção da
feitura do nosso destino. Luzes fabricadas pelo nosso desejo de chegar.
E se o objeto que agora jaz abandonado sofrendo dos ventos e
fumaças de estradas intermináveis, era quem prendia o ar condicionado do
veículo? Poderemos supor que agora vai circular sofrendo de todos os calores da
natureza e de sua própria mente e corpo. Implacável e infernal, seguir a rota
sem refrigeração.
Este componente, no entanto, não afeta mentes alertas que
divagam prazerosamente por entre as situações da vida. Sempre condicionadas em
apreciar a brisa, mesmo no sufoco, vêem saída. Almas aquietadas vão
fazendo o seu caminho com seus próprios ares.
Escrever para viver e viver para escrever. A inspiração é o meu objeto de desejo a cada amanhecer e assim minha alma fica fortalecida no encontro do silêncio e da natureza marítima. Leiam com bons olhos! Mail para contato: verarenner43@gmail.com Vera Lucia Renner
domingo, 28 de fevereiro de 2010
Parafusos soltos
domingo, 21 de fevereiro de 2010
Homens off
A galera masculina “off” é pra lá de inusitada, pois, pensam
eles que já mataram o seu leão da vida.
Este cara é o avesso das mulheres do mesmo naipe que tem na
liberdade e independência seu fundamento. Estar em sintonia com o universo,
acalmar-se dentro do seu tempo, não é tarefa para esta turba.
Por ter encerrado as conquistas exigidas pela sociedade,
orgulhoso traz na coleira esposa e filhos e uma vidinha enquadrada no dia a dia
bem tradicional com familião no arresto. Preconceituoso e conservador, homens
“off” tem vesgos olhos para a galera libertária.
Completos, os “off” seguem a vida sem olhar muito no entorno.
A vida anda em ritmo ditado pela rotina imposta de sábados dedicados ao
futebolzinho e cervejada com amigos. Esta agenda, é precedida de uma segunda
feira de canastra, uma quarta de jantar de negócios e na sexta, ora, na sexta
um happy hour com os colegas do escritório.
Sobrou o domingo que já começa com chimarrão em algum parque
da cidade. Necessário levar os filhos na indiada. Na mira, almoço de familião
providenciado pelas esposas, boas donas de casa, com barriga na pia e olhos
para os quitutes que serão o deleite do macho, mas, também alvo de críticas,
pois há que se controlar o peso. Enfim, com este homem não se tem saída.
Final de domingo, é claro, futebol na TV, Faustão e cerveja.
Dorme no sofá. Ninguém é de ferro.
Bom, pode haver
exceções......
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Códigos
Passei minha infância na Praia de Torres, de
onde tenho as mais gratas lembranças de família, de mar e de criança. Minha
casa de hoje na praia rescende a cheiros de outrora e também de acontecimentos
que em todo momento me fazem voltar tão para trás que fico pensando em que vida
me encontro.
Acho que em outra vida, já.
Muitas vezes tonteio tal a força da lembrança e vai daí que
me lembrei dos códigos.
Em Torres, tínhamos uma casa de frente para o mar com
varandão e a maresia acompanhava meu nariz em todas as cenas.
Os códigos começaram quando algumas crianças passavam de
bicicleta pela nossa calçada e eram atingidas pela água de nossas “bixiguinhas”
travessas. Claro que pararam as corridas por ali e a partir deste tempo nossas
correrias na quadra era de todas juntas. Código aceito, turminha formada para o
resto da vida.
Minha mãe nos deixava ir ao mar de tardezinha e estabeleceu
um código: ao pendurar uma toalha branca na varanda, tínhamos que voltar. Eu,
magrelinha, nem havia entrado no mar já me via louca de frio e de olho na
toalha para poder retornar. Engraçado, para mim, estar refugiada, alguém me
chamar, voltar para meu canto já era fundamental.
Liberdade vigiada, diríamos hoje. Até hoje eu a pratico de
mim para mim.
Mas os códigos continuaram também acontecendo, mais não seja
por ser dada a delírios e inspirações tomando gosto pela surpresa, pela
aventura, para o desafio de me deixar ir destemperada, para depois voltar.
Pois é um código moderno, o SMS, quem vive me surpreendendo.
Apenas um “plin” e sempre lá está uma mensagem curta e significativa que me faz
voar para algum lado. No pensamento, na resposta criativa ou numa viagem, me
jogo do “plin” para um caminho divertido e lúdico que reforça minha tendência
de arriscar.
O e-mail acompanha de fato estas viradas, no susto e na
expectativa de receber aquele aviso, aquele pensamento, aquele “alô” do
distante que aproxima tanto, criando laços reais na confissão dos mais diversos
sentimentos. A caixa reveladora de tudo. Dos mistérios às mais irrelevantes
conversas.
E de surpresa em surpresa, aqui na minha praia de agora, uma
vizinha me joga um código tão meu conhecido ao me dizer que em breve, após
estar instalada em sua casa, colocará uma toalha azul na varanda, avisando que
ela já está a minha espera, para uma conversa, um chimarrão. Só poderia
acontecer comigo esta alegria de reviver, mais uma vez, um código infantil.
Presto muita atenção no detalhe.
São códigos
imperdíveis!
Duas lágrimas
O dia chora mansinho se unindo a tantas e tantas outras vertentes cristalinas que brotam de olhos de todos os matizes sempre mantendo a au...

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