As ruas do meu bairro mudam de aspecto mais rapidamente do que eu possa acompanhar. Residências desaparecem e espigões se lançam aos céus numa velocidade voraz.
Nas minhas andanças vejo casas caírem lentamente sobre o martelo de operários que insensíveis destroem tijolo por tijolo o lugar, deixando desnudas as emoções que permearam anos de vida de uma família. Quantas conversas nos corredores, discussões do dia a dia, amores compartilhados, cheiros das estações do tempo e da comida diária. Cheiro da família, chinelos se arrastando, gente rindo e tossindo, familiares partindo.
Acompanho atônita como se fosse um filme todas estas energias pulsantes que pairam sobre este lugar que agora não é mais nada. Vagam no entorno se perdendo, e para onde esta gente foi esta fase talvez não os acompanhe.
Sem nenhum pudor a intimidade da morada é deixada à mostra e descoberto os azulejos daquele velho banheiro que viu tantos corpos nus, gelados, quentinhos, jovens, velhos e desolados talvez. Lágrimas escondidas num espaço que é privado e santuário para muitos. E me aperta o coração.
O carvão da velha churrasqueira no jardim ainda cheira e ouço risadas de uma reunião de domingo. No abandono, uma banheira de porcelana cheia de inço, ridícula e bela na sua falta de propósito depositada naquele charco e não em seu lugar de origem com velhos azulejos e vapores fumegantes de uma sala de banho antiga.
E as paredes vêm abaixo sem dó com a história desta família se desfazendo no chão junto aos últimos cacos de tijolo, argamassa e azulejo picado mil vezes. Renascem novas em outro lugar, ou não.
E o meu coração se aperta e choro.
Escrever para viver e viver para escrever. A inspiração é o meu objeto de desejo a cada amanhecer e assim minha alma fica fortalecida no encontro do silêncio e da natureza marítima. Leiam com bons olhos! Mail para contato: verarenner43@gmail.com vera renner
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Um comentário:
Muito bom, muito bom. Daqui há pouco vai dar pra montar um livro!!
Vai em frente. Vai ser cada ver melhor!!
bjs
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