Encontrei este rádio antigo no
sótão, guardado entre velharias abandonadas, cheio de pó, e ao me deparar com o
que procurava firmei a intenção de instalar um Rádio Escuta e, por este motivo,
me joguei de corpo e alma no sótão e lhe dei vida, respeitando seu formato e
composição antiga na emissão valvulada, com design e dial funcionando com muita
personalidade, inundando na tardinha o ambiente com o chiado das notícias de
toda parte do mundo, recheadas de mistério, causando um frisson na sala
enfumaçada pelo palheiro da vizinhança.
Nasceu em mim a esperança de
resgatar a acústica que se perdeu por aí, que subiu nas antenas de morros desconhecidos
e com muita probabilidade tenha sido abafada pelo vento de todos os quadrantes
se engalfinhando no ar e fazendo moucos meus ouvidos.
Quem sabe este cenário lúdico
e carinhoso me estimule a monitorar todos os sons do entorno, de dentro e de
fora da casa, passando com singeleza pelo meu ensimesmado bate-papo bate-pronto
que vai ao ar todo santo dia tendo como interlocutor as paredes. Haverá
certamente um labirinto de ruídos que confunde pelo simples motivo de vir, muitas
vezes, entrecortado, dificultando a compreensão e a interpretação.
Este lugar escolhido por Deus
e a mim entregue reúne em seu espírito todo o estrondo que perambula por aqui,
entrando sorrateiramente por debaixo da porta, pelas frestas da veneziana, misturando
tudo em uma parafernália sonora que se embola dia a dia. O Rádio Escuta recebeu
a nobre missão de decodificar a mensagem para esta casa.
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