sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Desta vez

Achei por bem relevar, colocar no escanteio, fazer ouvidos moucos e mente desacordada para tudo o que se aproxima de mim a passos largos, que pode ser fruto da imaginação ou a realidade se impondo tumultuada na escuridão da vida paralela, havendo a possibilidade de que uma armadilha esteja armada só pelo gosto de açodar a minha alma, essa daí que ora anda em léguas, ora se arrasta, ora se curva sem forças.

Desta vez vou deixar que avance a intenção e me colocar em guarda na observação e, com lápis e papel em punho lá me vou registrando o que acontece como nos tempos de outrora.

De primeira mão não vou fazer nenhum juízo, vou apenas exercitar o meu raro atributo de lembrete para, na sequência, fazer registros. Estas notas, primeiramente passarão pelo escrutínio da minha emoção e com um tempo nem curto nem longo os colocarei ao rés do chão, lado a lado e mal comparando. Após isto feito, saio de cena silente, como em tantas outras investidas recebidas.

Pressenti que neste patamar vou fazer diferente ludibriando a mim mesma, alçando voo para conseguir uma vista panorâmica dos feitos em andamento no andar de baixo que está em formação.  Espero a chegada com altivez de quem está em guarda premeditada.


sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Cabeleira de maré

 

A tempestade anunciada com alarde sempre vem com o destino traçado de destruição, de terra arrasada, de mar nas alturas, de barrancos desmoronando, de postes em colapso, de botes e navios adernando parecendo que o fim dos tempos realmente vai chegar com dia e hora marcados, tanto para abordar-se quanto para evadir-se e no mesmo ritmo do anúncio a correria se instala  causando transtorno igual ou maior do que o anunciado vendaval com pompa e circunstância. A adrenalina começa a correr forte no sangue de bichos e gentes que arrepiam a carcaça externa e interna em posição de sentido para a luta.

O oceano enfarpelado tal como cabeleira de maré invade a meia praia parecendo desejar se evadir do furor em seu lugar de origem, o alto mar. Aderna por aqui todo tipo de personagem começando pelo velho marinheiro que se estabelece com sua parafernália de pescaria inutilizada neste momento pelo nó cego que as ondas realizaram em sua rede de pesca e que tais.

O vento surge audacioso valsando com audácia, descabelando toda sorte de árvore, arbusto e inço rastaquera não poupando ninguém enquanto assobia e canta esperando que a chuva venha lhe fazer companhia.

Tudo pronto na face da terra para a grande defesa ao clima ameaçador que paira sobre a cabeça do velho lobo do mar que espreita os acontecimentos com desconfiança uma vez que utiliza seus instrumentos adquiridos através da experiência na navegação de anos em águas bravias.

Arrebitou o nariz, apontou o dedo para o negro horizonte, alisou a cabeleira revolta e assentou. Puxou o palheiro, desdobrou sua rede, arrumou caniço e anzóis preparando-se para o desenlace que certamente ocorreria em poucos minutos. Assim como veio a notícia ameaçadora por via remota novamente vence o faro de quem habita o mar e, com singela humildade, o vento amainou, o mar retrocedeu e bichos e gentes saíram da toca ocasional renovando a fé nos ensinamentos da vida natural.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

O desafio diário

O desafio naquele dia se encontrava em um certo aperto ao redor, um sinal vermelho para o movimento, um gradeado inusitado e sem propósito alçando os ambientes do entorno, um certo medo de tudo ou quase tudo levando ao encarceramento da vontade, do sorriso, da conversa deixando este dia em modo de espera desesperador.

Segui enclausurada dentro de mim e apesar do esforço hercúleo em me livrar do aprisionamento mais me enredava na teia pegajosa e invisível que abarcava além de mim o mundo ruidoso ao redor que agora teimosamente se imiscuía de afrontar o silêncio imposto por uma aparente ordem de vida desconhecida.

O olhar vagava lento e interessado em buscar na visualização a resposta para a paralisia circundante sem êxito. Dei-me conta lentamente que os impedimentos que me cercavam não tinham autoria, não vinha de nenhuma voz interior ou do além, não havia nenhum exercito barrando os caminhos, inexistiam muralhas intransponíveis e tampouco vozes expressando palavras de ordem.

Ergui a cabeça mirando pela primeira vez, depois de iniciado o estupor que me envolvia, o firmamento, que lá se encontrava impávido e misterioso iluminando a escuridão com toda a galáxia a seu dispor. Me pareceu que estava mais do que na hora de acordar do pesadelo, alçar voo e seguir na busca dos caminhos desconhecidos.

sábado, 7 de dezembro de 2024

Novo tempo de Luz

 

Levantei a cabeça com dificuldade naquele dia pois a caminhada no escuro exauria minhas forças, minha visão e meu raciocínio causando este estado de estupor frente ao que se passava à minha frente, ao lado e atrás. Nem sei direito se era real a sensação de nó na garganta, de teia em redemoinho de corda forte ou se era a conjunção difícil que o Universo emanava para todos os lados quase que sem critério me atingindo em cheio pelo visto.

Sentei na beira do caminho desolada quando percebi que a bagagem que eu carregava estava pesando demasiadamente e me pus a pensar o que poderia ser interessante descartar para que eu tivesse inciativa e coragem de me evadir daquele lugar que de uma hora para outra se tornou inóspito e desconhecido para mim. Imperativo buscar o incógnito que tanto almejo.

Ponderada, coloquei em minha frente a carga que me acompanhava e ao analisar com critério o que se apresentava percebi com clareza que o maior volume não constava de objetos físicos que eu havia recolhido às pressas. Curiosa e alerta resolvi abrir aquela maleta antiga de couro sovado. Nela eu havia guardado todas as lembranças, boas e outras nem tanto. Escrutinando o manancial de assuntos remotos pesou sobremaneira meu espirito que tombou em desalento.

Delicadamente depositei em um altar improvisado na beira do caminho todo o peso que eu sentia, orando ao Pai Eterno que enviasse os Anjos de Luz para resgate. Neste momento surgiu brilhante no horizonte o túnel do Novo Tempo. Aleluia.

 

Fio desencapado

  Estava tudo igual com a pasmaceira dos dias passando, o sol nascia e descia com variação de tempo conforme a estação, o mar com sua muta...