Não sei quem me encontrou
primeiro, se aquela papelaria antiga ou eu, que ando gastando a sola do sapato
atrás de quinquilharias que lembrem o passado da escrita, do desenho, da
caligrafia, enfim, elementos que fazem parte da recordação, atualmente.
Sempre que algo ruim me vem à
cabeça penso logo na borracha de antigamente que era utilizada para apagar e
corrigir uma grafia descuidada e acredito que
seja uma lembrança muito especial porque, como uma metáfora do fundo do
baú, se pode fazer sumir o que aquele fato ou criatura proporcionou . Nestes tempos de pensamento
açodado a arma antiga se constitui em objeto curador do mau pensamento.
A parafernália, mesmo em tempos bicudos de
teclado, me acompanha com galhardia e olho aberto porque, todas elas –
cadernos, lápis, borracha, blocos, papel de recado, caneta tinteiro, apontador,
clips, grampeador, caneta esferográfica, régua, lápis de cor e cera, compasso -
e mais o que a minha memória não alcança, nutrem a esperança de que todo dia eu
vá buscar por seus serviços. E de fato assim é.
Ao utilizar as minhas
companheiras de escrita desde que me conheço, sempre volto a uma época em que a
vida passava em frente a mim como se fosse um compasso de música suave, momentos
em que se levantava o olhar do caderno para apreciar um pio de passarinho, um
gatinho por entre as mudas de flores, uma minhoca vagando por entre a grama
perfeita da minha casa. Ao apreciar a natureza em seu ritmo primoroso a mente
se acalma e se organiza voltando o olhar para a página em branco. Então, na
sequência, com outros elementos para a
continuação da escrita e leitura entra em cena novamente a cadência do tempo,
que não voa, ele acontece, minuto a minuto.