Derrubei a história que estava contida há muito tempo dentro desta garrafa que levei até a beira mar porque, ao contrário do que eu havia imaginado, ela parecia ter se dado por vencida, e, fracassada em sua mensagem arrombou a rolha que lhe estancava o conteúdo precioso de outrora e se espalhou desordenada pelas areias úmidas da beira do mar desejando que as ondas viessem ao seu encalço e tragasse para a sua profundeza letra por letra, ponto por ponto.
Havia ainda a questão do sentido intrínseco da história abatida que surpreendentemente insistiu em manter-se por ali, negando-se a desaparecer como se não houvesse existido, afinal, não é eliminando letras, verbos, consoantes, preposições, ponto e vírgula que se apaga um significado que já criou asas e trilhou seu caminho enquanto mensagem, já atravessou mentes heroicas, covardes, ignorantes e inteligentes, já se expôs ao ridículo e ao sucesso, já se recolheu e já tornou a se manifestar.
O impasse estava criado quando a maresia correu em auxílio da história que teimava em não se evaporar criando uma bruma tênue e acolhedora e deste modo singular o teor se aninhou.
Resolvi aceitar o desafio de
rever em que período aquela mensagem havia se esvaído de si mesma, em que momento
aconteceu a retranca do pensamento, em que ponto a história perdeu seu rumo chegando
ao extremo de desejar se esvanecer nas areias da praia, mas, quase que
imediatamente percebi que a conjunção de esforço no alinhavo do palavrório não
se apaga assim facilmente porque o pensamento expresso possui vida própria atravessando
com pertinácia a gangorra da vida com grande probabilidade de ser tão ou mais
atual do que o próprio tempo.