sexta-feira, 17 de março de 2023

As Praieiras

 


O cenário se prepara para elas e deste modo bem lúdico a natureza finaliza o ambiente cenográfico ajeitando as luzes do céu em tons mais brandos combinando com o sol que se descortina como sempre rutilante porém, amenizado pelo entorno verde e litorâneo, com suas areias já acomodadas e as franjas do mar mais tímidas em seu vai e vem. Tudo pronto. 

Em um primeiro vislumbre se repara no alinhamento do olhar que unido vai permitindo que os atores da rua se desnudem frente a elas e então se inicia o “trottoir” diário dos personagens que quase em câmera lenta vão se alternando em frente ao preguiçoso olhar coletivo instalado já no raiar do dia. 

O falatório maroto parte em missão unindo a fala que se apresenta -  supostamente verdadeira - atingindo aqui e ali as entrelinhas com sagaz observação de deboche, atrevimento e volúpia sempre inteligentemente finalizado com uma risada escancarada como que zombando de si mesmo nesta trincheira da vida. 

Seus corpos lado a lado acomodados evidenciam com singeleza sua consistência adquirida através dos anos com a sobriedade que lhe foi permitida redesenhar suas marcas com perfeição calculada porque afinal, a caminhada se deu através de tempestade e calmaria se alternando no açoite do tempo permitindo que agora surja a escultura perfeita do corpo. Este cenário simples vem suntuosamente embalado pelo dom que a natureza humana possui de impregnar a uma cronologia implacável um espírito divino.

Gosto amargo

  Girei os calcanhares com gosto amargo na boca travando meu raciocínio para reconhecer o espaço de tempo que ocupo desde há muito e que hoj...