Foi quase sem querer que encontrei nas entranhas da minha casa aquela lupa antiga que ao surgir a mim pareceu vir carregada de história das mais simplórias até as mais escabrosas e também fiquei pensando o quão andarilha ela se tornou em quantos lares se abrigou e em quantas mãos trôpegas se firmou prestando ajuda aos pertencentes dela ao esclarecimento de letras, de formas, de alegorias ou simplesmente aumentando a vista da janela.
Resolvi empunhar o artefato com curiosidade e como a vista anda me falhando mesmo com os quatro olhos em punho, acabei me dividindo e resolvi buscar por aqui tudo o que a vista normal não alcança e, de fato encontrei muito mais do que esperava e até necessitava. Confesso que eu costumo me ocultar atrás da visão não esclarecida fazendo questão até de me preferir andar por ai com a paisagem borrada parecendo que a vida no entorno se tornou um quadro de “Monet” o que muito me apraz e assim providencio um recolhimento automático uma vez que de fora para dentro da retina o gris impera.
Acabei encontrando uma montanha de anotações pequenas em papéis rotos, alguns amassados com fúria, outro alisados com carinho, outros dispostos de ponta cabeça de propósito porque talvez a sua leitura seja mesmo com conteúdo sem pé nem cabeça.
Animei-me com a lupa em
riste e fui desbaratar o que eu mesma escondi, ou alijei de prontidão da minha
vista por qualquer motivo, ousando imaginar que a atitude foi acertada, pois
está me parecendo com esta lente de aumento que as linhas foram mal traçadas em
momentos de extrema tristeza, decepção, medo ou esperança perdida que me
acometeu de modo avassalador e rápido em determinado momento. Por fim as frases
eram compostas de pensamentos rápidos e fugazes apenas dando a entender que o
sentimento frente à vida gosta de se envolver entre tudo e nada.