Com os olhos na nuca atenta-se ao que já se
foi, seja uma pessoa, um fato, uma história ou um momento sem importar o que vem
à lembrança, se recente ou antigo, ou até, quem sabe, nunca aconteceu. É fácil
fazer de um sonho uma companhia tão assídua que acaba se cobrindo do véu da
realidade desejada fazendo parte da trajetória e lá se vão de mãos dadas para
sempre se confundindo.
O tempo, contado em partículas enredadas
entre o verdadeiro e o insólito fluem sem parar praticamente invisíveis aos
nossos olhos que andam por aí se distraindo com o insolucionável, emperrando na
teimosia do fazer qualquer coisa, ou tudo ou nada.
O olhar dança conforme a musica atemporal com
um cuidado voltado ao infinito. Enquanto isso, como um gatuno no silêncio da noite
se esvai às escondidas as horas preciosas do tempo em curso, seja ele
atabalhoado de coisas por fazer seja ele atabalhoado de desfeitos, ou, vazio de
sentido e conteúdo. O fino curso dissipa-se recheado de uma vida que passa ao
largo e em silêncio quase sempre parecendo - a quem lhe preste atenção - que
anda pé ante pé, talvez para não chegar tão rápido ao destino. De todos, sem
exceção.
Nos escaninhos das passadas oculta-se a
verdade que aparece com uma simplicidade estonteante, principalmente para quem
lhe pensa em ser de difícil entendimento, junto a ela, em outro compartimento,
as ilusões fazem companhia irônica e deste jeito surdo vão se soltando as
preciosidades não vistas, as emoções simplistas, os recursos fáceis e o
desapego emocional seguido pelo terreno. Na verdade eles correm velozmente para
se amontoarem no outro canto, aquele que fica oculto por conta da distração
mesmo tendo a certeza que será refeita tantas e tantas voltas quantas forem
necessárias para selar com pertinácia o ciclo.