Contrariando a maioria deixei por uns dias de
olhar para frente, me abstendo também de embarcar no sintoma coletivo de bota
fora, de vai acabar o mundo, tenho que cumprir a promessa, tenho que emagrecer,
tenho, tenho, tenho. Eu estacionei e
pensei que não tenho nada, que estes dias serão como todos os outros, com um
olhar para o mar, este meu conselheiro diário que faço questão de imitar cada
sinal seu como se meu fosse.
Ao abrir minhas janelas a conversa já vai
correndo solta e vou incorporando sua fúria, seu desdém – adoro – pelas coisas
humanas, seu repudio ao avanço em seu terreno, sua contumaz primazia em colocar
de volta as areias que lhe tiraram do encosto, seu mau humor junto ao
maquinário que insiste nesta época em afundar sua margem. Para ele, Rei do
Litoral, tudo faz falta na natureza. Em compensação, os excessos de verão lhe
tiram do serio. Eu lhe tomo como exemplo.
Minha lembrança tratou de esfarelar o
inconveniente porque, pensando bem, meus pensamentos se assemelham às ondas do
mar. Só na limpeza. Empurra para a costa o que não serve com uma galhardia que
somente um manancial deste porte tem coragem. Com ele não tem mais ou menos,
joga tudo longe com desvario, mesmo que ainda continuem com a mania de atirar
sobre suas ondas o que não é do seu quadrado.
Achei por bem lhe imitar em mais este
procedimento. Joguei-me em suas águas geladas e turvas – ele não estava para
brincadeira neste dia – e no final do mergulho já era outro ano! Era março veja
só - com uma praia deserta, esperando pela minha passada solitária por entre os
caramujos. Feliz Ano Novo.