quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Final do ano



Contrariando a maioria deixei por uns dias de olhar para frente, me abstendo também de embarcar no sintoma coletivo de bota fora, de vai acabar o mundo, tenho que cumprir a promessa, tenho que emagrecer, tenho, tenho, tenho.  Eu estacionei e pensei que não tenho nada, que estes dias serão como todos os outros, com um olhar para o mar, este meu conselheiro diário que faço questão de imitar cada sinal seu como se meu fosse.

Ao abrir minhas janelas a conversa já vai correndo solta e vou incorporando sua fúria, seu desdém – adoro – pelas coisas humanas, seu repudio ao avanço em seu terreno, sua contumaz primazia em colocar de volta as areias que lhe tiraram do encosto, seu mau humor junto ao maquinário que insiste nesta época em afundar sua margem. Para ele, Rei do Litoral, tudo faz falta na natureza. Em compensação, os excessos de verão lhe tiram do serio. Eu lhe tomo como exemplo.

Minha lembrança tratou de esfarelar o inconveniente porque, pensando bem, meus pensamentos se assemelham às ondas do mar. Só na limpeza. Empurra para a costa o que não serve com uma galhardia que somente um manancial deste porte tem coragem. Com ele não tem mais ou menos, joga tudo longe com desvario, mesmo que ainda continuem com a mania de atirar sobre suas ondas o que não é do seu quadrado.

Achei por bem lhe imitar em mais este procedimento. Joguei-me em suas águas geladas e turvas – ele não estava para brincadeira neste dia – e no final do mergulho já era outro ano! Era março veja só - com uma praia deserta, esperando pela minha passada solitária por entre os caramujos. Feliz Ano Novo.

Gosto amargo

  Girei os calcanhares com gosto amargo na boca travando meu raciocínio para reconhecer o espaço de tempo que ocupo desde há muito e que hoj...