Luz e trevas se interpõem dividindo o dia,
não ao gosto e supremacia da natureza e sim ao império de ditos e não ditos
daqui e dali. Assim se vai a naturalidade de abrir os olhos porque o tic-tac
interno ordenou imperando agora o forcejo de acordar antes, mesmo querendo todo
mundo acordar depois. Antes e depois se manifestam oponentes mudando a nossa
expectativa de normal mesmo que seja o sonho de todos amenizarem a rotina e não
transformá-la.
De um lado, o sol nasce do mesmo jeito parecendo
que vem receoso de não ter sua plateia favorita de plantão porque o relógio se
negou a despertar, porque o sono não quis se evadir ou, as férias chegaram e
perder a hora é mais comum ficando assim aquela correria sem sentido para pegar
o que já aconteceu e errar o compromisso que vem porque o sol é quem estabelece
os roteiros, não havendo agora grande integração entre a natureza e o corpo.
Os pássaros não entendem bem a situação e
iniciam seu trinado ainda no escuro confundindo o restante da bicharada que os
segue fielmente. As flores também se embaraçam porque a luz ainda não se foi
totalmente, mas já é hora de fechar suas pétalas e aguardar o despertar no dia
seguinte, aquecidas pelo sol, que anda esquisito.
Os moradores das areias do quebra mar se estremunham
ao despertar na meia luz, mesmo tendo a certeza que a hora do descanso acabou.
Em dúvida aguardam o preguiçoso Rei Sol raiar fora de hora. Com a natureza
manipulada acontece a trincheira de caranguejos, tatuíras e mariscos que se
enfileiram ao horizonte aguardando o manda chuva do dia dar as caras, porque
somente na companhia do seu calor e de sua luz é que se iniciam as brincadeiras
na beira da praia onde a turba de praieiros se interpõe como gato e rato junto
a galera marítima. Tudo muda para ficar igual.