Gosto de ter, às vezes, diante de mim, um
quadro de natureza morta porque o mesmo irá retratar o momento do meu estado de
espirito que procura pela paisagem perfeita, rica em detalhes com luz e
harmonia escondendo com maestria a liberdade do criador em eternizar na tela o
momento que só a ele diz respeito.
Vez ou outra meus olhos não se abrem para o
que tem movimento e fico invertida com o desejo de parar frente a um retrato,
uma abertura, um momento, não havendo possibilidade de fugir do desenho que se
apresentou recatadamente perante mim. Penso que vem como se uma tramela da vida
se cristalizasse na minha alma com impossibilidade de escapar em dia
específico.
Escolho a dedo o que vou fixar naquele dia
para que assim eu possa percorrer minhas lembranças no conforto do tempo que
não urge, na parcimônia de admirar o belo, no cuidado para que feridas já
cicatrizadas não se abram como flor de lótus deixando as beiradas do presente
aflorar.
Navego nos detalhes caprichosos de luz e cor,
no significado de objetos e alimentos se interporem um ao outro criando uma
história inédita e com sentido diverso para quem lhe põe os olhos. Um momento
de espera e liberdade de qual vereda pisar, tendo o cuidado de uma vez elegida,
melhor dar-lhe as asas mais importantes conferindo uma história particularmente
curativa.