sábado, 27 de fevereiro de 2016

Reiniciando




Acordei com aquele sino na cabeça ribombando em mil acordes dissonoros, claudicantes, e ao mesmo tempo em que o badalo ia lentamente de um lado ao outro, parecia tão rápido que eu mal conseguia acompanhar. Demorei um pouco para perceber que o sono surgido com tanta urgência na noite anterior veio com a missão de acumular assuntos de todas as tendências, se apresentando tão cedo, incontinenti.

Entendi que não estava dando tempo para olhar cada um com parcimônia, porque logo atrás deste, vinha o seguinte me acenando e cada um parecia mais urgente. Era como se eu estivesse diante de tantas tarefas acumuladas que só de olhar a planilha a vontade era de desistir.

Faz um tempo que me espreguiço sobre assuntos dando-lhe as costas sem aprofundar a questão, sem ficar curiosa, sem ter alegria de esmiuçar o vocábulo, a intenção ou mesmo o disparate que tenta me seduzir.

Está me parecendo agora que um desdém altivo é o vírus que me contamina que me enfraquece que me tira o alfabeto da linha de frente tornando-me eu, desta forma, uma parasita dos sem palavras.

As notas que antigamente eram dramaticamente digitadas ou rabiscadas em qualquer pedaço de papel sumiram da vista, ou melhor, da cabeça. Eventualmente algum assunto parece vir me acordar deste silêncio absurdo a que me prendi, mas se esvai como a bruma da manhã que morre para dar nascimento à luz do dia.

Nesta manhã intuí que a fila de agravos e desagravos havia aumentado sensivelmente se tornando uma doença inevitável e que para dar cabo da mesma somente indo a campo.

Com paciência, desta vez, foquei um a um os temas na berlinda e fui reparando que ao percebê-los, já não me pareciam ter sentido, estavam distantes de mim, não comprometiam meus sentimentos e nem partilhavam de um mínimo de atenção do meu coração.

Dentre tantos que descartei por desmerecimento absoluto, aparecia a situação surreal de desentendimento que me levou a tantas lágrimas e desespero, resultando em ferida aberta, porém, agora aplico o cicatrizante chamado tempo, que remedia tudo o que remédio não tem.

Passei aos outros itens mais entusiasmada, com metade de mim que reiniciava a passos lentos. Dei de cara com a surpreendente irrelevância que assoma nossos dias, que dilacera nossa esperança que inviabiliza sorrisos e atravanca a rotina.


Como uma bofetada eu percebi todos os rouba-tempos que minavam a minha leveza e a minha capacidade de evocar a vida que segue todos os dias, esta particularidade simplória que se configura como nosso motor mais completo e azeitado.

Gosto amargo

  Girei os calcanhares com gosto amargo na boca travando meu raciocínio para reconhecer o espaço de tempo que ocupo desde há muito e que hoj...