Perplexa, fiquei analisando bem de pertinho, sem querer
acreditar no que eu assisto, e muito menos, no que me acontece, ouço ou leio.
Tudo revirado, como se cada parte da vida fosse um grande rolo de fio, delicado
é claro, como deve ser, mas enredado por demais, como jamais deveria acontecer.
É fio de seda se enredando com fio de algodão, o próprio
se enroscando na lã, o cordão tosco de amarração solitário e o fio de ouro longe
da turba. Os tantos outros fios de menor serventia ou fama, se enredam irresponsavelmente
entre si e entre todos. Surge aquela questão do primeiro que salva a pele e
corre, sem olhar para trás.
E assim enxergo as relações que permeiam a vida, que
nunca está fácil, que sempre tem um degrau mais alto que os outros, uma pedra
difícil de arredar, um tronco atravessado no meio do caminho, um córrego
profundo que não dá pé ou um rio caudaloso que arrasta tudo que vê pela frente,
até você.
Do meu observatório composto de lupas muito sensíveis não
consigo enxergar um meio termo nas atitudes de um mundo que se reúne no dia a
dia para se relacionar, para amar, para trabalhar, para dividir, se divertir e
para dar certo, ora veja.
No porão escuro dos sem noção, a praga da atualidade, a
desdita entra sorrateira, resvala na parede em silencio com pés descalços para
parecer sem recursos e a respiração suspensa demonstra fôlego para fazer o mal.
Aparentemente, os
cordões previamente organizados que haviam decidido respeitar a origem de cada
um, tomaram para si uma vida própria que carece de pacto com o outro. Ao invés
de fazer a renda combinada fica decidido perseguir o emaranhado confeccionado
com os fios de quinta categoria e difíceis de manipular. Todo este esforço para
apenas ludibriar.
A ideia deles é não ser presenciado na queimação do
combinado, fazendo parecer que a falta de tempo é culpada pela desmemoria e
ausência de compromisso. Quem não tem tempo para nada mente para si e para a
vida e esta vai cobrar o preço por ter sido desperdiçada a moeda mais
inconteste da vida. Não se engane.