quinta-feira, 23 de abril de 2015

Espera


Eu, naquele dia, não tinha alternativa a não ser me dobrar na urgência da comunicação que eu nem entendo direito para que, mas como já fui dominada por ela, me curvo. Então soltei uma frase completinha no teclado, contente pela coragem, feliz por ser moderna, por ser conectada, por parecer ao menos, deste mundo.

E lá se foram gravadas as palavras que em tempos de hoje significariam 1500 caracteres caprichados. Vai entender.

Eu não faria o que os antigos fazem como soltar textos ao vento, ao pé do ouvido, até, pasme, ao telefone, esta coisa tão antiga. Usei até abreviaturas coisa um pouco parecida como usar roupas inadequadas a sua idade ou ao biótipo. Fiquei ali olhando a mensagem que em um clic iria alvejar seu destino e minha euforia pela ousadia não tinha fim. Fiquei ansiosa porque estava falando, enfim, a língua dos teclados, a farra do muito dizer com poucas letras e me enfileirei no mundo da espera de resposta.

A expectativa era grande e me fez sentar em todas as cadeiras da casa, balançando nervosamente as pernas cruzadas, ora uma, ora outra, um senta levanta, toma café, toma água, vai à janela. Ah! A Janela, esta abertura cafona para um mundo de hoje que só olha para baixo, para a mesa, para o colo. Há muito que sei que dali mesmo que nada vem, o meu mundo está enjaulado, em um quadrado mais ou menos grande e outro bem pequeno. Já a vista que não alcança muito tudo, agora mesmo que se aperta, se aguça, sofre para enxergar.

Ao enviar minha missiva cheia de alternativas para resposta, lotada de carinho acumulado, transbordante de ansiedade, me senti, de certa forma, vazia. Tanto planejamento para flechar um alvo difícil e agora só me resta, grudar os olhos na parafernália eletrônica, os algozes de quem tem sede de resposta.


Demorou muito para que finalmente eu tivesse retorno do meu empenho. Mas estava lá, majestosa, super moderna, forte e decisiva A Resposta: “eu também”. 

Gosto amargo

  Girei os calcanhares com gosto amargo na boca travando meu raciocínio para reconhecer o espaço de tempo que ocupo desde há muito e que hoj...