Já me preocupei muito com conversas, sendo um tema que deixa a minha
verve e o meu pensamento suspensos como se fossem ganchos grilhados na pele
pendurados em pau de arara. Minha impressão é de sempre lá estar a catar a
melhor resposta, o aparte mais
surpreendente ou, pior, errar o colóquio, uma vez que estou tomada
de pavor. E não é só o pavor que me acomete e sim uma preguiça feroz de
participar, de ficar atenta, de dar tratos à bola e a massa cinzenta para
juntar todos os cacos verborrágicos que me atravessam tal qual flechas
predatórias do assunto.
Haja assunto nestes dias de hoje e, mesmo assim,
quase sempre descambam para o mesmo tema, ditado pelas grandes mídias. Replicar
se transformou em verbo imperativo seja o que isso signifique nos dias de hoje
e a massa segue uníssona, com voz forte a derrapar em teus ouvidos.
Conversa sempre me pega em pendular burrice porque nunca sei como agir. Será
que devo expressar o que eu realmente penso do assunto ou devo me calar e
aguardar o que vem de lá para novamente rebater calada o que não faz
sentido ou o que não me enriquece. Vai daí que sem querer eu descobri o segredo
da conversa.
É aquela forma de se chegar perto do outro com um
sorriso emoldurando a simples frase que até pode começar “como o dia está
lindo” e melhor ainda se esta for dirigida a quem não tem o alfabeto na ponta
da língua.
Na
busca da interlocução atemporal vou seguindo com um bate papo sem compromisso a
respeito das chuvas fortes da noite anterior, esticando a prosa para
comentar o que a cachorrada de rua anda aprontando e deste jeito bem natural
vou construindo a fala perfeita. No final do dia a mente está preenchida
de conceitos e receitas de viver em conversas bobas.