Ele me olhava sedutor, atirava em mim as bolinhas brancas das quais eu me furtava de rebater, mas era como um ímã, pois quanto mais ele me atraía com seu azul cobalto, mais eu dava voltas no entorno e queria escapar.
Dava dó de vê-lo pendurado e
descarnado.
Resolvi então que acharia
funções deliciosas para ele em mim, a começar por poder envergá-lo após o banho de domingo, já bem
tarde, e depois a parada obrigatória na rede e a
vista do mar flanando evasiva.
Arrumada como uma andarilha
do descanso, vou repousar na maciez do tecido, perambular por entre prateleiras revendo
objetos, lustrando capas dos livros já velhas, ajeitando aqui e ali o lugar de
descansar.
Vou escalar bolinha por
bolinha e chegar até a altura dos ombros, ajeitar a gola generosa e
aconchegante e dar uma espiada no tempo esticando a mão para fora da longa
manga, para sentir de que lado o vento sopra, recolhendo em seguida e dando meia volta com prazer à tarefa de fazer
nada.
Na descida, uma soneca no
bolso do casaco e em seguida resolvo me divertir escorregando bolinhas abaixo chegando até a
barra da calça que ajeito para não tropeçar.
Após esta viagem, volto a
mim preguiçosa, avoada e impotente para rejeitar os pensamentos sem destino
que vem me assaltar, me assombram e se vão.Melhor deixar pra lá e vestir aquele pijama de seda!